“Para aqueles difíceis de agradar”
La Fontaine, autor francês que viveu no século XVII, escreveu 240 fábulas em verso distribuídas em 12 livros que foram publicados entre os anos de 1668 e 1694. Dentre as fábulas mais conhecidas, destacam-se “A cigarra e a formiga”, “A lebre e a tartaruga”, “O leão e o rato”, “A raposa e as uvas” e “O conselho dos ratos”.
Quando recebi o convite para criar uma peça coreográfica, a partir de uma das fábulas desse autor, convidei a dramaturga Silvia Soter para pensarmos juntas esse desafio. Escolhemos a fábula “Contre ceux qui ont le goût difficile”, em tradução livre para o português “Para aqueles difíceis de agradar”, conta Lia Rodrigues. Nessa fábula, La Fontaine coloca em diálogo o autor e o crítico. Não apenas o próprio escritor e seus inúmeros críticos, mas artista e crítico como posições imbricadas e complementares: a de quem faz e a de quem recebe.
La Fontaine desenha diferentes caminhos por onde a criação pode trafegar e cada possibilidade é questionada por esse outro, censor ou crítico, que pode ser ainda apenas outro lado do próprio artista: afinal, quem são aqueles difíceis de agradar? Os críticos? O público? Quem é esse outro? Não seria a insatisfação do artista aquilo que o move a transformar, desmontar, recombinar, criar e arriscar mais uma vez?
As muitas questões levantadas pelo autor nos permitiram encontrar pontos em comum entre a França do século XVII descrita e criticada pela pena afiada de La Fontaine e a forma como somos vistos e vemos hoje. Quem são os fortes e quem são os fracos? Ganhar ou perder é apenas uma questão de perspetiva? Podemos imaginar, como em “O Carvalho e o Caniço”, que a balança do poder toma caminhos inesperados e que diferentes possibilidades podem se apresentar? Ser cigarra ou formiga, carvalho ou caniço, raposa ou cegonha, artista ou crítico de arte?
Ficha técnica
Direção e criação: Lia Rodrigues
Dramaturgia: Silvia Soter
Intérpretes e criadoras: Larissa Lima e Valentina Fittipaldi
Ensaiador assistente: Andrey Silva
Colaboração na criação: Amália Lima, Micheline Torres, Marcele Sampaio, Jamil Cardoso, Sandro Amaral, Celina Portella, Francine Barros e Allyson Amaral
Música: Les Motivés (Chants de Lutte)
Iluminação: JimmyWong
Fotos: Rian Souza
Secretária/administração: Gloria Laureano
Produção: Corpo Rastreado – Gabi Gonçalves
Agradecimento especial: Amália Lima
Co-produção: Compagnie Maguy Marin/Centre Chorégraphique de Rillieux-la-Pape, Le Toboggan/ Centre Culturel de Decines, Pôle Sud/Strasbourg, Centre National de La Danse/Pantin, Centre Culturel Aragon/tremblay en France, Centre des Bords de Marne/Le Perreux-sur-Marne,Groupe des Vingt Théâtres en lle de France com a parceria DRAC lle de France e ADAMI/França
Apoio: Centro de Artes da Maré
Limpeza e cuidados especiais: Sendy Silva
Uma realização de Corpo Rastreado e Lia Rodrigues (em) companhia de Danças
“Para aqueles difíceis de agradar” é para Antônio e Isadora quando pequenos.
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